José Luís Peixoto (Galveias, Portalegre 4 de setembro de 1974, Portugal), é um escritor e dramaturgo português.
Em 2001, o seu romance “Nenhum Olhar” recebeu o Prémio Literário José Saramago. Está representado em diversas antologias de prosa e de poesia nacionais e estrangeiras.
Em 2005, escreveu as peças de teatro “Anathema” (estreada no Theatre de la Bastille, Paris) e “À Manhã” (estreado no Teatro São Luiz, Lisboa).
Em 2006, publicou o romance “Cemitério de Pianos”.
Em 2007 estreou a peça "Quando o Inverno Chegar", no Teatro São Luiz, em Lisboa.
Os seus romances estão publicados em França, Itália, Bulgária, Turquia, Finlândia, Holanda, Espanha, República Checa, Croácia, Bielo-Rússia, Polónia e Brasil. Estando actualmente em preparação edições no Reino Unido, Hungria e Japão.
O Município de Ponte de Sor criou um prémio literário com o nome de José Luís Peixoto para jovens autores
ARTE POÉTICA
o poema não tem mais que o som do seu sentido,
a letra p não é a primeira letra da palavra poema,
o poema é esculpido de sentidos e essa é a sua forma,
poema não se lê poema, lê-se pão ou flor, lê-se erva
fresca e os teus lábios, lê-se sorriso estendido em mil
árvores ou céu de punhais, ameaça, lê-se medo e procura
de cegos, lê-se mão de criança ou tu, mãe, que dormes
e me fizeste nascer de ti para ser palavras que não
se escrevem, Lê-se país e mar e céu esquecido e
memória, lê-se silêncio, sim tantas vezes, poema lê-se silêncio,
lugar que não se diz e que significa, silêncio do teu
olhar doce de menina, silêncio ao domingo entre as conversas,
silêncio depois de um beijo ou de uma flor desmedida, silêncio
de ti, pai, que morreste em tudo para só existires nesse poema
calado, quem o pode negar?,que escreves sempre e sempre, em
segredo, dentro de mim e dentro de todos os que te sofrem.
o poema não é esta caneta de tinta preta, não é esta voz,
a letra p não é a primeira letra da palavra poema,
o poema é quando eu podia dormir à tarde nas férias
do verão e o sol entrava pela janela, o poema é onde eu
fui feliz e onde eu morri tanto, o poema é quando eu não
conhecia a palavra poema, quando eu não conhecia a
letra p e comia torradas feitas no lume da cozinha do
quintal, o poema é aqui, quando levanto o olhar do papel
e deixo as minhas mãos tocarem-te, quando sei, sem rimas
e sem metáforas, que te amo, o poema será quando as crianças
e os pássaros se rebelarem e, até lá, irá sendo sempre tudo.
o poema sabe, o poema conhece-se e, a si próprio, nunca se chama
poema, a si próprio, nunca se escreve com p, o poema dentro de
si é perfume e é fumo, é um menino que corre num pomar para
abraçar o seu pai, é a exaustão e a liberdade sentida, é tudo
o que quero aprender se o que quero aprender é tudo,
é o teu olhar e o que imagino dele, é solidão e arrependimento,
não são bibliotecas a arder de versos contados porque isso são
bibliotecas a arder de versos contados e não é o poema, não é a
raiz de uma palavra que julgamos conhecer porque só podemos
conhecer o que possuímos e não possuímos nada, não é um
torrão de terra a cantar hinos e a estender muralhas entre
os versos e o mundo, o poema não é a palavra poema
porque a palavra poema é um palavra, o poema é a
carne salgada por dentro, é um olhar perdido na noite sobre
os telhados na hora em que todos dormem, é a última
lembrança de um afogado, é um pesadelo, uma angústia, esperança.
o poema não tem estrofes, tem corpo, o poema não tem versos,
tem sangue, o poema não se escreve com letras, escreve-se
com grãos de areia e beijos, pétalas e momentos, gritos e
incertezas, a letra p não é a primeira letra da palavra poema,
a palavra poema existe para não ser escrita como eu existo
para não ser escrito, para não ser entendido, nem sequer por
mim próprio, ainda que o meu sentido esteja em todos os lugares
onde sou, o poema sou eu, as minhas mãos nos teus cabelos,
o poema é o meu rosto, que não vejo, e que existe porque me
olhas, o poema é o teu rosto, eu, eu não sei escrever a
palavra poema, eu, eu só sei escrever o seu sentido.
José Luís Peixoto (Galveias, Portalegre September 4, 1974, Portugal) is a Portuguese writer and playwrighter.
In 2001, his novel "No Look" won the Literary Prize José Saramago. It is represented in several national and foreign anthologies of prose and poetry.
In 2005, he wrote the plays "Anathema" (premiered at the Theater de la Bastille, Paris) and 'In the Morning "(premiered at the Teatro Sao Luiz, Lisbon).
In 2006 he published the novel 'Cemetery of Pianos'.
In 2007 premiered the play "When the winter comes" at the Teatro Sao Luiz in Lisbon.
His novels are published in France, Italy, Bulgaria, Turkey, Finland, Netherlands, Spain, Czech Republic, Croatia, Belarus, Poland and Brazil. The issues for the United Kingdom, Hungary and Japan are currently under preparation
The municipality of Ponte de Sor created a literary prize named after José Luís Peixoto for young authors.
Poetic Art (by José Luís Peixoto)
The poem has nothing else besides the sound of its meaning,
the letter P is not the first letter of the word poem,
the poem is made of feelings and that's the shape it takes,
the word poem shouldn't be read poem,
one should read it bread or flower, one should read it
a fresh herb and your lips, one should read it a smile
spread in a thousand strands or sky of daggers, or threat,
one should read it fear and the blind one's touch,
one should read it a child's hand or you, mother, who sleep
and made me born, in order to be the words that
nobody writes, one should read it country and the sea
and forgotten skies, and memory, one should read it silence
yes, several times, the word poem should be read silence,
a place that is not mentioned and it's real, silence from
your sweet girl's eyes, silence in conversation on Sundays,
silence right after a kiss, or from a leafless flower,
silence from you, father, who died just in order to be alive
in this silent poem; who would contest you?
You, father, who write this poem forever and ever
in secret into me and into all those who miss you.
The poem is not this pen in black ink, it is not this voice,
the letter P is not the first letter of the word poem,
the poem is the moment when I could sleep till late
on summer's vacation and the sunshine used
to come through the window, the poem is the place
where I used to be happy, the place where I died so many times,
the poem is that moment when I didn't know
neither the word poem nor the letter P and
when I used to eat toast made in the fire in the kitchen
at the back of the house,
the poem is here, it's when I raise my eyes from the paper
and I let my hands touch you, it's when I realize, with no rhymes
and no metaphors, that I love you,
the poem will be a poem when the children
and the birds once rebel and till that day comes
the poem will keep being "forever" and "everything".
The poem knows itself and the poem never calls itself poem,
it never spells its name with the letter P,
its inner is perfume and it's tobacco,
it's a boy who runs in an orchard to hold his dad,
it's exhaustion and the freedom felt,
it's all I want to learn if all I want to learn is everything indeed,
it's the way you look at me and all I can guess from your eyes,
it's loneliness and regret, its inner is not libraries blazing in verses
because this scene is just libraries blazing in verses
and it's not the poem,
it's not the root of a word we believe we know
because we just know what we have and we have nothing at all,
it's not a Franciscan from Torrão singing psalms and building walls
between the verses and the world, the poem is not the word poem
because the word poem is only a word,
the poem is the salt-beef, it's one's eyes watching
the top of the roofs while everybody sleeps at night,
it's the last thought when somebody drowns,
it's a nightmare, it's anguish, it's hope.
The poem has no stanzas, but a body, the poem has no verses,
but blood, the poem is not written in letters, one should write it
in grains of sand and kisses, petals and moments, shouts and
uncertainness, the letter P is not the first letter of the word poem,
the word poem exists not to be written such as I live
not to be written, not to be understood even by myself,
even that my essence is everywhere I am,
I am the poem, it's my hand through your hair,
the poem is my face which I cannot see,
and I know it exists because
you look at me, the poem is your face and
I don't know how to spell the word poem,
I just know how to write about its feelings.
José Luís Peixoto (gimęs 1974 Rugsėjo 4d. Galveias, Portalegre, Portugalijoje)
yra portugalų rašytojas ir scenaristas.
2001m. José novelė „Be žvilgsnio“ laimėjo José Saramago literatūros premiją. Ji yra įtraukta į kelias nacionalines ir užsienio prozos ir poezijos antologijas.
2005m. jis parašė dramas „Anathema“ (premjera pasirodė de la Bastille Teatre, Paryžiuje) ir „Ryte“ (premjera Sao Luiz Teatre, Lisabonoje).
2006m. jis publikavo novelė „Pianinų kapinės“.
2007m. buvo dramos „Kai Ateina Žiema“ premjera Sao Luiz Teatre, Lisabonoje.
Jo novelės yra publikuojamos Prancūzijoje Italijoje, Bulgarijoje, Turkijoje, Suomijoje, Olandijoje, Ispanijoje, Čekijos Respublikoje, Kroatijoje, Baltarusijoje, Lenkijoje ir Brazilijoje. Šiuo metu deramasi ir dėl Didžiosios Britanijos, Vengrijos ir Japonijos.
Ponte de Sor savivaldybė įsteigė literatūros prizą jauniems novelistams, pavadintą José Luís Peixoto vardu.
Poetinis menas
Poema neturi nieko, išskyrus jos reikšmės skambėjimą,
raidė P nėra žodžio poema pirmoji raidė
poema yra sudaryta iš jausmų, ir tai pavidalas, kurį ji įgauna,
žodis poema neturėtų būti skaitomas poema,
ji turėtų būti skaitoma kaip duona ir miltai, ji turėtų būti skaitoma kaip
šviežia žolė ir tavo lūpos, ji turėtų būtu skaitoma kaip šypsena
padalinta į tūkstantį medžių ar dangaus durklų, ar kaip grėsmė,
ji turėtų būti skaitoma kaip baimė ir kaip aklojo prisilietimas,
ji turėtų būti skaitoma, kaip vaiko ranka, arba Tu, mama, kuri miegojai
Ir pagimdei mane, kad būtum žodžiais,
kurių niekas nerašo, ji turėtų būti skaitoma kaip šalis ir jūra
ir pamirštos dangaus platybės ir prisiminimas. Ji turėtų būti skaitoma kaip tyla,
taip, kelis katus, ji turėtų būti skaitoma kaip tyla
vieta, kuri nėra minima, bet yra reali, tyla
iš tavo mielos mergaitės akių, tyla sekmadieniais pokalbyje,
tyla po bučinio, ar iš belapės gėlės,
tyla iš tavo tėvo, kuris mirė, kad būtų gyvas
šioje poemoje; Kas galėtų nuginčyti tave?
Tu, tėve, kuris rašai šią poemą per amžius
paslapčia, manyje, ir visuose, kurių pasiilgai.
poema nėra plunksna juodame rašale, ji nėra šis balsas,
raidė p nėra pirmoji raidė žodžio poema,
poema yra momentas, kai galėdavau miegoti iki pietų per atostogas
vasarą ir saulės šviesa sklisdavo pro mano langą,
poema yra vieta, kurioje būdavau laimingas ir vieta,
kurioje tiek kartų miriau, poema yra laikas,
kai nežinojau nei žodžio poema, nei raidės p,
ir kai valgydavau skrebučius, pagamintus ugnyje, virtuvėje
galiniame kieme, poema yra čia, ji yra kai pakeliu akis nuo popieriaus
ir leidžiu savo rankoms tave liesti, ji yra kai suprantu, be rimų
ir be metaforų, kad tave myliu, poema bus poema, kai vaikai
ir paukščiai sukils, ir kai ta diena ateis, poema bus „visada“ ir „viskas“.
poema žino save pačią ir ji nevadina savęs poema,
ji niekada netaria savo vardo su raide p,
jos vidus yra kvepalai ir tabakas,
tai berniukas kuris bėga vaismedžiu sodu, kad apkabintų tėvą,
tai išsekimas ir pajausta laisvė,
tai viskas ką norėčiau išmokti, jei viskas ką norėčiau išmokti, iš tiesų yra viskas,
tai kaip tu žiūri į mane ir viskas ką galiu atspėti iš tavo akių- tai vienišumas ir gailestis,
jos vidus nėra bibliotekos, liepsnojančios kažkada parašytom versijom
todėl, kad jausmas yra tik bibliotekos, liepsnojančios kažkada parašytom versijom, ir tai nėra poema,
tai nėra šaknis žodžio, kurį galvojam, kad žinom, nes mes galim žinoti
tik tai, ką turim, o mes visiškai nieko neturim, tai ne
Franciskanas iš Torrao dainuojantis psalmes ar statantis sienas
tarp eilėraščių ir pasaulio, poema nėra žodis poema,
nes žodis poema tėra tiktai žodis,
poema yra sūdyta jautiena, tai žmogaus akys stebinčios
namų stogus, kol visi naktį miega,
tai paskutinė mintis kai kažkas nuskęsta,
tai košmaras, tai kančia, tai viltis.
poema neturi posmų, tik kūną, ji neturi eilučių,
ji turi tik kraują, poema nėra parašyta raidėmis, ji turi būti parašyta
smėlio smiltelėmis ir bučiniais, vainiklapiais ir momentais, riksmais ir
neužtikrintumu, raidė p nėra pirmoji žodžio poema raidė,
poema egzistuoja ne tam kad būtų užrašyta, kaip ir aš gyvenu ne tam,
kad būčiau užrašytas, ne tam, kad būčiau suprastas, net savęs pačio,
net jei mano esmė yra visur kur aš esu,
aš esu poema, tai mano ranka tavo plaukuose,
poema yra mano veidas, kurio aš nematau,
ir aš žinau, kad ji egzistuoja,
nes Tu žiūri į mane, poema yra tavo veidas ir
aš nežinau kaip pasakyt paraidžiui žodį poema,
aš tik žinau kaip rašyti apie jos jausmus.
Šaltiniai: http://pt.wikipedia.org/wiki/José_Luís_Peixoto#cite_note-2
http://translate.google.com
http://srjoao.blogspot.com/2007/12/melhor-coisa-que-j-l-peixoto-escreveu.html
Sandra Fliess poem translation to english
corrigido
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